É noite, eu estou sentado na sala
de estar com um café quente na mão direita e meus óculos fundo de garrafa na
intenção de me sentir mais maduro, ou quem sabe intelectual. Faltam 10 minutos
para amanhã e me sinto cansado. Por isso, observo atentamente eles agiram como
orquídias sobre mim, tentando roubar tudo que puderem, sugando minhas energias,
meus talentos, meu ser. Poderia até me manifestar, mas não digo nada. Talvez
seja pelo fato de ter me acostumado por muitos anos a ficar em silêncio, porque
é melhor pra conviver.
Faltam dez minutos para amanhã e
meu sistema nervoso lembra que há algo errado, sinto um latejar demasiado,
parece que bateram com um martelo em minha cabeça durante horas. Não existe
remédio para este tipo de dor. É estresse, preocupação. É vontade de fugir e
recomeçar num lugar onde ninguém me conheça, muito embora minha sina me persiga
onde quer que eu vá. Dizem que alguns de nós nascemos especiais, que temos um
dom, previlégios que os outros não têm. Mas é uma carga pesada para se carregar
quando é jovem. Existe um turbilhão de pensamentos passando pela mente na velocidade
da luz lutanto para sobreviver até que o mais forte nos impulsione a agir de
uma determinada maneira sobre aquele fato. Eu até gosto de ser quem sou. Eu não gosto do que me impõem.
Eu quero que parem de me pedir
pra ser um líder, quero que parem de me colocar na frente dos problemas
pensando que eu posso resolver todos eles, eu quero que parem de confiar no meu
conhecimento e busquem o seu, eu quero ouçam suas próprias músicas e tenham
seus própios gostos e só dançem na chuva se assim quiserem. Eu quero que parem
de tentar escolher a cor da minha camisa polo e o tom do meu jeans, eu quero
que parem de roubar meus hobbies, quero que parem de entrar na minha vida
fingindo ser meus amigos apenas para sugar minhas ideias. Eu quero que parem de
fingir que me amam, porque eu sei da verdade. Eu quero que parem de fingir ser
meus amigos, porque eu sei quem são os falsos, mas, como disse no primeiro
parágrafo, só observo enquanto agem como águas-vivas e areias movidiças diante
de mim. Eu quero me deixem para que eu possa me libertar.
E o tempo é mal educado. É tão
globalizado, capitalista, movido pela era da tecnologia do século XXI. O tempo
não tempo para nada. Eu percebo isso, afinal, faltam dez minutos para amanhã e
ainda não decidi se vou, enfim, falar ou continuar sendo o mesmo. Ainda não sei
se vou lutar ou continuar observando, ainda não sei se vou fugir ou pedir
demissão. Ainda não sei se vou ficar ou viver em vão. Eu sei quem sou. Sei que
sou movido pelas minhas emoções. Eu sei que amo. Eu sei que o tempo nunca foi
gentil. Não me importo, já tenho 72 anos e vivi muito bem. Realizei muito
sonhos, não se engane. Mas durante toda essa vida tive muitos problemas com
relação aos falsos, aos sugadores. Eles parecem abutres em busca de carne.
Isso me deixa impaciente. Não sou carne, não sou doce, não sou salgado, muito
menos agridoce. Sou um homem. Normal. Homem. Comum.
Essa poltrona é realmente
confortável, esses óculos me fazem refletir. Eu não posso mais mudar muita
coisa porque já estou velho e a idade me limita. Então, deixo para a nova
geração uma mensagem. Não deixem que suguem seus talentos, cada um deve
desenvolver o seu. Não deixem que transfiram seus problemas para você, os seus
já são grandes o suficiente. Mas seja gentil e procure ajudar. Não deixe que
decidam seu futuro, só você sabe o que quer. E, acima de tudo, se afaste das
orquídeas, porque quando se trata da vida, elas parecem ter veneno de
escorpião, matam sua alma lentamente ou, às vezes, são fatais. Essas, meu caro,
mantenha distância, porque o seu dom é seu, e a sua vida é sua.
Não esqueça, faltam dez minutos
para amanhã. Eu ainda vou estar aqui, porque já vivi. Mas você pode fazer
diferente. Faltam dez minutos para amanhã, o amanhã é você. Faltam dez minutos
para amanhã, não tenha medo, quem é verdadeiro ficará. Faltam dez minutos para
amanhã, entretanto, fique calmo, eu não quero te apressar. Faltam dez minutos
para amanhã, a vida é o maior presente que Deus dá. Por Drizana Ribeiro