quarta-feira, 2 de julho de 2014

Alice

Alice andava no País das Maravilhas toda vez que acordava para enfrentar um novo dia. Ela pensava que tudo seria possível, que a vida se realizaria, que o mundo se transformaria e que as pessoas que ela ama poderiam ser diferentes se ela as desse um pouco de força. Tola. Ingênua criança. Não sabe que o mundo é tão cruel quanto a natureza de um ser humano se ele assim quiser. 
Mas, o País das Maravilhas é uma possibilidade tão doce que se fosse real ela poderia nadar num mar de  chocolate ou pular em nuvens de algodão doce. Ah, quão suave seria... O fato é que algumas realidades não mudam e a razão para ela desejar morar em lugar diferente é simples: não suporta mais viver num mundo onde ninguém se importa com ninguém, onde as pessoas tem prazer em fazer o mal e usar palavras negativas. É  tanto ódio, morte e inveja que às vezes não estar "na terra" é uma ótima válvula de escape. 
Alice estava aborrecida, ela se sentia excluída. Talvez estivesse  à frente da sua geração com pensamentos tão avançados e sonhos tão grandes, enquanto aqueles que estavam ao seu redor se viam acomodados. "Por que é que não vão a luta? Por que aceitam viver nessas condições deixando seus sonhos ganharem teias sobre as estantes como um velho porta retrato? Isso é incompreensível."
Na mente de uma jovem garota tudo o que se vê é possível. Não existem limites. Mas é preciso amadurecer, guardar a alma de uma  criança junto com a sua pureza e sinceridade. Amadurecer. Sonhar todos os dias. Amadurecer. Entender. Compreender. Perceber, enfim, que todos somos muitos diferentes. Amar alguém não significa ser amado, incentivar alguém não quer dizer que essa pessoa fará, fazer planos não significa realizar, e não  se pode mudar a personalidade do outro. O que é, é. Quem é, é. Ponto. Temos de respeitar. 
Alice percebeu que não é bom viver no País das Maravilhas o tempo todo. Quando fechamos os olhos podemos sonhar, mas quando abrimos devemos correr atrás. Cada um deve seguir a sua vida, nem sempre vamos levar quem amamos conosco, porque, como dizem, cada homem (pessoa) é uma ilha. Se zangar com os problemas alheios faz parte de ser humano em todos os sentidos, mas não é absorver. Deixar as situações que trazem coisas ruins é o primeiro passo para o sucesso. Ser feliz sem motivo aparente é um estado de espírito. 
Devo dizer, na minha opinião nada pessoal sobre a vida de Alice, que viver no País das Maravilhas é uma tentação, mas nada se compara ao sabor da vida real ainda que venhamos a cair diversas vezes. É indescritível experimentar o desconhecido, é bom viver o mistério do amanhã, é necessário viver uma vida individual antes de partir para o grupo, é importante se afirmar. 
Portanto, se posso deixar a minha humilde suposição, digo que todos temos um pouco da Alice em nós e que ela acordou do seu sonho para viver o real e deixou o País das Maravilhas para os dias escape e para as noites frias. Alice abriu os olhos e sorriu.